‘Não tinha nada a perder’: após perder o filho, pai esperou esposa morrer para matar professor em SC



 A Polícia Civil de Santa Catarina consolidou, nesta terça (23), a principal linha de investigação sobre a execução do professor Lucas Antonio de Lacerda, 39 anos, morto a tiros dentro do carro no bairro Ipiranga, em São José, na tarde de 15 de setembro de 2025. O principal suspeito é um homem de 45 anos, pai do jovem que morreu em acidente de trânsito envolvendo o professor em 20 de junho de 2024, em Florianópolis. Segundo a investigação, ele estaria inconformado desde a perda do filho e teria aguardado uma nova tragédia familiar para consumar a vingança. Uma semana antes do crime, a esposa do suspeito morreu, fato tratado como possível gatilho. A confirmação desse contexto reforça a hipótese levantada com exclusividade pelo Jornal Razão no mesmo dia do assassinato.

O delegado Abel Bovi, responsável pelo caso, afirmou em coletiva que o inconformismo do suspeito remonta ao acidente do ano passado e que a morte recente da esposa pode ter intensificado esse estado emocional. Em paralelo, o delegado-geral Ulisses Gabriel enfatizou que vingança não é motivação juridicamente plausível quando o evento anterior é crime culposo. Para a Polícia Civil, há diferença clara entre uma colisão sem intenção de matar e uma execução a sangue frio, com dolo direto.

As câmeras de segurança registraram 21 disparos na cena do homicídio, oito deles atingindo o carro do professor. Lucas estava em um Peugeot 207 SW quando foi surpreendido por um veículo que o fechou na via. O atirador desceu armado e disparou a curta distância. O professor morreu no local.

A investigação também alcança o sobrinho do suspeito, 24 anos. Ele foi visto no banco do passageiro do carro do tio minutos antes do assassinato, segundo imagens analisadas pela Polícia Civil. No sábado (20), a 2ª Vara Criminal de São José expediu dois mandados de prisão temporária, cumpridos contra o pai e o sobrinho. A captura do autor ocorreu em Palhoça. A arma e o veículo usados no crime ainda não foram apreendidos, e a polícia prossegue nas diligências para localizar ambos. Com essas prisões temporárias e o avanço das diligências, a linha de vingança por causa do acidente de 2024 fica novamente confirmada, como o Jornal Razão apontou com exclusividade já no dia do crime.

O inquérito em andamento avalia o indiciamento por homicídio doloso com qualificadoras de motivo torpe e recurso que dificultou a defesa da vítima. A apuração inclui imagens, laudos balísticos, perícias de local e novas oitivas. A Polícia Civil também confirmou que o professor não havia registrado boletins de ocorrência por ameaça. A família, porém, relatou duas ameaças feitas no ano passado logo após o acidente. “Depois disso, ele não recebeu mais ameaças. Como o Lucas não tinha culpa de nada no acidente, achamos que tinha sido uma ameaça na emoção do momento e que não fosse se concretizar”, disse a companheira ao NSC Total.

O histórico criminal do principal suspeito também é investigado. De acordo com a apuração policial, ele possui diversas passagens por furto, entre outros delitos, informação que reforça, para os investigadores, o risco de reiteração e a necessidade de mantê-lo preso durante o curso das investigações.

O caso que acendeu a faísca do conflito ocorreu em 20 de junho de 2024, no bairro Canto, em Florianópolis. A motocicleta pilotada por um jovem de 24 anos colidiu na lateral do carro conduzido por Lucas, que fazia conversão à esquerda para acessar a garagem de casa. O inquérito da Polícia Civil concluído em maio de 2025 não apontou negligência, imprudência ou imperícia do professor. Ainda assim, o Ministério Público ofereceu denúncia por homicídio culposo em julho de 2025, sustentando que Lucas teria agido com culpa ao não observar o dever de cuidado no trânsito, realizando manobra em local proibido. A Justiça recebeu a denúncia e marcou audiência de instrução e julgamento para 24 de junho de 2026. Com a morte de Lucas, a ação penal foi extinta.

Os laudos técnicos produzidos ao longo da investigação do acidente registraram que a motocicleta trafegava a 97,5 km por hora e em contramão em trecho com faixa dupla contínua. A perícia identificou marcas de frenagem de 25,8 metros, indicativas de tentativa de parada. Documentos analisados no procedimento mencionam que a conversão para acessar a residência era permitida por lei, segundo aquele material técnico.

Lucas vivia na Grande Florianópolis desde 2011. Professor de Literatura, atuava em escola e cursinho pré-vestibular e era descrito por colegas e alunos como dedicado e atencioso. “Trabalhou com responsabilidade desde muito cedo, sendo exemplo e motivo de orgulho em minha família”, disse a irmã Verônica ao NSC Total. O velório ocorreu em São Paulo na quarta (17), e a família destacou que pretende guardar a memória de um homem honesto, honrado e apaixonado pelo Santos.

A Polícia Civil segue na etapa final do inquérito do homicídio em São José. A prioridade é localizar a arma e o carro usados no crime e consolidar as provas que sustentam o indiciamento por homicídio qualificado. Para os investigadores, o fio que liga um acidente de trânsito à execução em plena luz do dia está estabelecido, em linha com o que o Jornal Razão antecipou com exclusividade no dia do assassinato.


Via Jornal Razão

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