Como deve ficar a economia do Brasil com a eleição de Trump?



A reeleição de Donald Trump à presidência dos Estados Unidos traz uma série de implicações para a economia mundial e deve gerar reflexos diretos para o Brasil. Com o retorno de Trump à Casa Branca, setores da economia brasileira, como o agronegócio e a siderurgia, podem se beneficiar, mas o impacto também envolve riscos, especialmente para o comércio exterior e para a inflação.

Durante seu primeiro mandato, Trump intensificou a guerra comercial com a China, o que levou o país asiático a buscar novos fornecedores de produtos, beneficiando o agronegócio brasileiro. Esse cenário pode se repetir, com o Brasil ganhando maior espaço para exportação de commodities, como produtos agrícolas e metais. Especialistas apontam que a demanda chinesa por essas commodities pode crescer novamente, caso as tensões entre EUA e China voltem a se acirrar.

No entanto, a política protecionista de Trump, com seu lema “América em primeiro lugar”, impõe desafios. O presidente reeleito já sinalizou a possibilidade de aplicar tarifas de importação de 10% a 20% sobre produtos estrangeiros. Para o Brasil, uma medida como essa significaria maiores barreiras de entrada para produtos brasileiros no mercado americano, o que pode afetar a balança comercial. Em 2023, o comércio entre Brasil e EUA movimentou cerca de US$ 75 bilhões, o que demonstra a relevância da relação comercial entre os dois países.

Outro fator de impacto para o Brasil é a valorização do dólar, que tende a subir com a política econômica de Trump, focada em cortes de impostos e desregulamentação para impulsionar as empresas americanas. A alta do dólar pressiona os preços de insumos importados, encarecendo a produção industrial brasileira e podendo gerar alta inflacionária. Nessa conjuntura, o Banco Central brasileiro pode se ver obrigado a elevar as taxas de juros para controlar a inflação, o que encarece o crédito e afeta o consumo e a produção.

Adicionalmente, a possibilidade de desregulamentação e cortes de impostos nos Estados Unidos pode atrair investidores para o mercado americano, resultando em fuga de capital dos países emergentes, incluindo o Brasil. Para competir por investimentos, o governo brasileiro poderia precisar aumentar a taxa Selic, buscando tornar o país mais atrativo para o capital estrangeiro.

Em resumo, a reeleição de Donald Trump oferece ao Brasil uma oportunidade de crescimento para setores como o agronegócio e a siderurgia, mas traz também uma série de desafios para a estabilidade econômica. A alta do dólar, as políticas protecionistas e o cenário de juros elevados nos EUA podem intensificar pressões inflacionárias no Brasil, exigindo cautela e medidas de controle por parte do governo brasileiro.

O impacto das políticas de Trump na economia global ainda gera incertezas, e só o tempo revelará os efeitos completos das decisões do novo mandato para o Brasil e o restante do mundo.

No G20

A eleição às vésperas da cúpula de líderes do G20 traz incertezas sobre o cumprimento das decisões que serão pactuadas entre as maiores economias do mundo, de acordo com especialistas entrevistados pela Agência Brasil. Ao longo do último governo, Trump não priorizou espaços de discussão internacional e chegou até mesmo a retirar os Estados Unidos do Acordo de Paris sobre mudanças climáticas.

A Cúpula do G20 representa a conclusão dos trabalhos conduzidos pelo país que ocupa a presidência rotativa do grupo, que neste ano é o Brasil. É o momento em que chefes de Estado e de governo aprovam os acordos negociados ao longo do ano e apontam caminhos para lidar com os desafios globais. A Cúpula será nos dias 18 e 19 de novembro, no Rio de Janeiro.

Apesar de ainda ocorrer sob a presidência norte-americana de Joe Biden, os acordos firmados deverão ser cumpridos pelo país sob a liderança de Trump. “Isso é algo que preocupa o mundo inteiro porque a economia dos Estados Unidos ainda é a maior do mundo”, diz o pesquisador Vitelio Brustolin, da Universidade de Harvard. De acordo com ele, propostas que estão sendo discutidas pelo G20 como propostas para o meio ambiente, combate à fome e taxação de grandes fortunas, “com a vitória de Trump, são esvaziadas”, diz.

Segundo o pesquisador, Trump tem um perfil isolacionista, de colocar os Estados Unidos em primeiro lugar, de não valorizar espaços internacionais multilaterais como o G20 e até mesmo de descumprir acordos internacionais, como foi o caso, em 2017, do Acordo de Paris. “Então, como é que se fala em compromissos em um evento como esse quando o histórico do Trump não é de manutenção desse tipo de compromisso?”, questiona.  

Participação de Biden

Diante desse cenário de possível esvaziamento, o tom da participação de Joe Biden no encontro é incerto, segundo especialistas. De acordo com o Professor Associado de Relações Internacionais no Instituto de Estudos Estratégicos da Universidade Federal Fluminense (UFF) Márcio José Melo Malta, o encontro poderia ser uma oportunidade para Joe Biden deixar um legado. 

“Seria uma ótima oportunidade para Biden, no seu final de mandato, na perspectiva de legado. Uma ótima oportunidade para tentar encerrar o mandato com chave de ouro e enaltecer o papel do G20”, diz.

O pesquisador do Núcleo de Inteligência Internacional da FGV e professor de Relações Internacionais do Ibmec Leonardo Neves complementa: “Não é claro se o governo Biden vai assumir compromissos ou tentar avançar em um debate já que ele sabe que, muito possivelmente, ou melhor, quase que certeiramente, daqui a dois meses, o governo vai ser do candidato a presidente eleito Donald Trump. Então, por consequência, ele iria desfazer tudo”, diz e acrescenta: “Eu não acho que vai traumatizar o G20 efetivamente, mas a gente vai esperar para ver qual vai ser o nível de engajamento do governo americano nesse contexto. Se ele vai tentar um apoio para tentar constranger Trump ou se ele vai efetivamente já tirar o pé do acelerador”.

Discussões não se perdem

Apesar do cenário de incertezas com a eleição de Trump, a professora da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj) Lia Valls não acredita que as discussões que foram feitas até o momento irão se perder.

“Um governo do Trump tem impactos importantes, sem dúvida nenhuma. Mas, pelo menos, será possível mostrar onde conseguimos chegar, a convergência em vários assuntos. Além disso, todas as conversas que ocorreram a nível da sociedade civil durante esse tempo também não vão se perder”, defende.

A agenda do G20 é extensa. Foram feitas reuniões de grupos de trabalho, reuniões ministeriais e diversas reuniões bilaterais ao longo de todo o ano.  

Valls explica ainda que o G20 é um fórum onde se busca convergências entre as maiores economias do mundo, mas não se trata de um espaço deliberativo ou de uma instância jurídica internacional.

Dessa forma, o que será firmado entre os países será o compromisso em se buscar determinados objetivos comuns: “O G20 é um fórum onde são importantes as trocas de ideias e as construções de convergência entre os países. A ideia é que haja esse compromisso. Só que não é um compromisso formal no sentido de assinar algo de uma instância jurídica internacional, mas sinaliza o desejo daquele país em perseguir determinados objetivos”.

A eleição de Trump deverá impactar também as discussões futuras do grupo. Em 2026, os Estados Unidos irão sediar as reuniões do G20, logo após a África do Sul, em 2025. “Como será que o Trump vai se comprometer com uma agenda de G20, que obriga convergências, discussões. Será que ele vai levar adiante? Talvez sim, mas com que bandeira?”, questiona.

Cada país que preside o grupo pode selecionar o lema das discussões. Para a presidência do Brasil no G20, as prioridades são: inclusão social e o combate à fome e à pobreza; a promoção do desenvolvimento sustentável em suas dimensões econômica, social e ambiental e transições energéticas; e a reforma das instituições de governança global, incluindo as Nações Unidas e os bancos multilaterais de desenvolvimento. “Certamente o Trump não terá uma agenda desse tipo”, comenta a professora.

G20

O Grupo dos Vinte (G20) é o principal fórum de cooperação econômica internacional. É composto por Argentina, Austrália, Brasil, Canadá, China, França, Alemanha, Índia, Indonésia, Itália, Japão, República da Coreia, México, Rússia, Arábia Saudita, África do Sul, Turquia, Reino Unido e Estados Unidos, além da União Europeia.

Os membros do G20 representam cerca de 85% do Produto Interno Bruto (PIB, soma de todos os bens e serviços produzidos por um país) global, mais de 75% do comércio global e cerca de dois terços da população mundial.

Desde 2008, os países revezam-se na presidência. Esta é a primeira vez que o Brasil preside o G20 no atual formato. 


Via: Ric.com e Agencia Brasil

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