Bebê paranaense tem alta após 489 dias internada e vai para casa pela primeira vez

Kherollyn de Campos Souza tem um ano e quatro meses e na última sexta-feira (24) foi para casa pela primeira vez na vida. A bebê foi diagnosticada com a síndrome do intestino curto e recebeu alta após ficar 489 dias internada.

Neste período, ela passou por quatro cirurgias e três hospitais. Agora, está em casa, em Ortigueira, nos Campos Gerais do Paraná, em "home care", ou seja, recebendo cuidados a domicílio.

De acordo com estudo da Sociedade Brasileira de Nutrição Parenteral e Enteral e da Associação Brasileira de Nutrologia, a síndrome do intestino curto provoca má-absorção intestinal e torna inevitável a dependência da terapia nutricional parenteral (TNP) - conjunto de procedimentos terapêuticos para manutenção ou recuperação do estado nutricional do paciente.

A notícia do tratamento em casa foi motivo de comemoração para a família, que se viu dividida desde que Kherollyn nasceu.

A mãe dela, Lúcia de Campos Oliveira, tem outras duas filhas, que ficaram com o pai em Ortigueira enquanto Lúcia acompanhava a bebê nos hospitais de Telêmaco Borba, Ponta Grossa e Curitiba. Saiba mais abaixo.

“Eu ficava de 30 até 60 dias junto com ela, não ia pra casa. Ia apenas num fim de semana para ver minhas duas outras meninas mais velhas. [...] Mesmo me recuperando da cesárea, eu não saía de perto dela. Era difícil, ainda mais pra quem fica, mas a gente se adapta”, afirma Lúcia.

Na maior parte do tempo, Kherollyn ficou no Hospital Universitário Materno-Infantil da Universidade Estadual de Ponta Grossa (Humai-UEPG).

Para que a mãe pudesse também ver as outras filhas, profissionais da equipe se voluntariaram para ir ao Hospital, fora do horário de trabalho, fazer o papel de acompanhante da pequena.

“Nós nunca tivemos um paciente internado por tanto tempo com a gente. [...] Cada um ajudava com o que podia, além das atividades inerentes à profissão. Muita gratidão, por termos conseguido encaminhá-la para alta com segurança, porém fica um vazio, com certeza iremos sentir muita falta delas”, afirma Ticiane Vilela, coordenadora das Clínicas Pediátricas do Humai.

Mesmo se alimentando normalmente agora, a expectativa é que futuramente o intestino dela possa crescer e absorver as calorias necessárias, sem necessidade do auxílio da nutrição intravenosa – o tempo irá responder ao que a equipe prevê.

Internações

Kherollyn nasceu em 31 de janeiro de 2023 em um hospital de Telêmaco Borba, cidade vizinha à Ortigueira, onde mora a família da bebê.

No dia seguinte, começou a ter vômitos e precisou começar a tomar antibióticos. Após exames detectarem alterações, foi transferida no dia 4 de fevereiro para o Humai-UEPG, de Ponta Grossa.

“Era um sábado, 1h15 da manhã, fizemos exames e vimos que o intestino estava retorcido. Daquele dia em diante, ela ficou na UTI até o dia 3 de maio do ano passado, quando fomos fazer reabilitação lá no Hospital Pequeno Príncipe, em Curitiba”, recorda a mãe.

Com o fim do tratamento na capital, mãe e filha voltaram para o Humai em 12 de setembro, na Clínica Cirúrgica, local em que aguardaram até a alta - que veio às vésperas da menina completar um ano e quatro meses de idade.

Moradora de hospitais

A bebê em fase de crescimento pleno precisou aprender a sentar, engatinhar, caminhar e comer em um quarto de clínica cirúrgica, em isolamento de contato.

Como o espaço era a sua casa, foi adaptado com brinquedos e toda a equipe precisou revisar protocolos, para proporcionar conforto à criança e sua mãe.

“Temos um carinho muito grande por eles. E na psicologia, nosso foco era a família. A Lúcia precisava estar aqui o tempo todo, foi poucas vezes para casa, então tivemos que desenvolver estratégias para atender o caso”, conta a psicóloga Karen Martins, do Humai.

No hospital, Kherollyn comemorou Dia das Crianças, Natal e até mesmo o aniversário de um ano, que contou com festa de aniversário organizada pela equipe do local.

A adaptação foi tanta, que a menina aprendeu os cuidados com higiene hospitalar. Basta chegar alguém com álcool 70% por perto, para ela pedir para passar na mão, ciente de que aquilo é bom para a saúde, conta a equipe hospitalar.

Conhecendo a própria casa

Eram 7 horas da manhã de sexta-feira (24) e todos já estavam em pé. Hora de ir para a outra casa, a definitiva, depois de quase um ano e quatro meses num hospital. Malas prontas, brinquedos guardados e bebê com laço no cabelo.

Foi difícil segurar a emoção em cada abraço apertado de despedida, conta a mãe da menina.

“O Humai foi um apoio muito, muito, muito importante, porque tudo o que eu precisei, sempre estenderam a mão. Aqui ela conseguiu se desenvolver, ter rotina… era uma casa, só que cheia de gente”, disse Lúcia.

Para que a ida para casa fosse bem-sucedida, o Humai trouxe a equipe de Ortigueira, que ficará responsável pelos cuidados em casa, para capacitação com enfermeiros, nutricionistas e médicos.

“A direção dos Hospitais Universitários acompanhou com alegria a alta da pequena Kherollyn, uma união de esforços assistenciais e administrativos para que ela tivesse o melhor atendimento possível”, ressalta a diretora geral, Fabiana Postiglione Mansani.


Via g1

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