Baía de Santos tem 100 vezes mais cocaína no mar do que a costa dos EUA



Um estudo divulgado recentemente aponta que o litoral de São Paulo, na Baía de Santos, possui 100 vezes mais cocaína do que a encontrada no litoral dos Estados Unidos. A contaminação prejudica, inclusive, a reprodução de animais.

A pesquisa foi iniciada em 2014 com o objetivo de identificar a presença de fármacos na água em uma região próxima de onde é despejado o esgoto doméstico, previamente tratado pela Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp). Mas entorpecentes também foram encontrados dissolvidos. A droga se acumula por conta da urina de usuários de drogas e, atualmente, não há um tratamento específico de esgoto para essas substâncias.

O trabalho é coordenado pelo professor doutor Camilo Seabra Pereira, com pesquisadores da Universidade Santa Cecília (Unisanta) e da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). A coleta da água ocorre rotineiramente entre 3,5 e 4,5 quilômetros da costa, ao centro da baía de Santos, e em uma área de navegação.

Os resultados desse estudo inicial, que se transformou em um artigo científico no último mês, comprovou que o contato dessas substâncias impacta na reprodução e no crescimento de moluscos. "Alguns processos são desregulados e nós conseguimos comprovar isso, confirmando o impacto pelo descarte", diz.

O despejo desses materiais no mar, segundo o pesquisador, ocorre pois o tratamento do esgoto foca em retirar materiais sólidos e micro-organismos. "Para na etapa de pré-condicionante, pois no Brasil é assim. Os fármacos e as drogas não são considerados contaminantes, então não são detectados no processo".

Segundo Seabra, a quantidade de cocaína no mar de Santos chega a ser 100 vezes maior daquela constatada na baía de São Francisco, nos Estados Unidos. "Isso acontece em razão do tratamento do esgoto, que chega a uma terceira fase [nos EUA], onde há uma maior descontaminação do material antes de chegar ao oceano".

O pesquisador afirma que o estudo é inédito na costa brasileira, que deve registrar situações semelhantes fora do litoral paulista. "Em todo o lugar que tiver grande concentrações urbanas e emissário de esgoto, os indicativos devem ser semelhantes, o que nos alerta para a necessidade de um sistema de tratamento novo de resíduos".

Camilo explica ainda que os fármacos e os entorpecentes ilícitos são considerados "contaminantes emergentes" e, por isso, também não estão indicados no protocolo seguido pelas agências sanitárias brasileiras. "Mas nos Estados Unidos e nos países da Europa, já ocorre a descontaminação desde 2015", afirma.

Diante nos novos resultados, a Companhia Ambiental do Estado de São Paulo (Cetesb) informou que solicitou formalmente uma cópia dos estudos para também investigar o que acontece nessa região. A estatal é responsável por monitorar a balneabilidade das praias paulistas.

O professor afirma que os banhistas devem ficar despreocupados, uma vez que não foram encontrados concentração dessas substâncias em praias. "Mas uma nova fase do estudo, previsto para acontecer no início de 2018, vai verificar se o consumo desses animais contaminados prejudica de alguma forma as pessoas".

O estudo, que é financiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado (Fapesp), prevê que no próximo ano também sejam coletados animais marinhos para análise. Até dezembro, pelo menos, os trabalhos concentram-se na coleta de amostras de água em diversas profundidade na baía de Santos.

Por meio de nota, a Sabesp confirmou que fármacos e entorpecentes não são removidos no tratamento de esgoto, conforme dispõe a legislação brasileira. "A cidade de Santos possui padrão europeu de saneamento e está entre as quatro melhores do país no setor, segundo Instituto Trata Brasil".

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